A fusão entre as cimenteiras europeias Holcim e Lafarge dá à produtora mexicana Cemex uma oportunidade de ouro para aproveitar ativos que serão vendidos, mas uma pesada carga de dívida pode impedir a companhia de fazer qualquer grande aquisição em breve.
Uma das maiores companhias de cimento do mundo, a Cemex fez uma enorme série de compras de ativos em um momento inoportuno, logo antes da última crise financeira. A companhia gastou 16 bilhões de dólares para comprar a rival australiana Rinker, ficando afudanda em dívidas e mal posicionada quando o mercado imobiliário dos Estados Unidos entrou em colapso.
A Cemex chegou perto do default e o preço de suas ações despencou antes da companhia passar por dolorosos refinanciamentos que a colocaram novamente em pé, mas limitaram seus investimentos.
A limitação pode agora ser uma camisa de força, impedindo que a Cemex faça grandes investimentos em um momento em que Holcim e a Lafarge buscam vender 5 bilhões de euros (6,85 bilhões de dólares) em ativos para ganharem aprovação para a fusão que criará a maior cimenteira mundo.
“Não vemos a Cemex sendo capaz de comprar alguma coisa. O nível de alavancagem é algo que a bloqueia”, disse Fernando Bolanos, analista da corretora mexicana Monex. “Também não a vemos como um alvo de aquisição.”
A Cemex tinha 16,3 bilhões de dólares em dívida líquida ao final de 2013 e relação dívida líquida sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 6,2 vezes, muito acima da média da indústria, além de um fluxo de caixa limitado.
Sob o acordo de refinanciamento de dívida de 2012, a Cemex precisa usar o fluxo de caixa para reduzir dívida, o que restringe sua capacidade para aquisições.
Executivos da Cemex ainda não comentaram o anúncio da fusão entre as duas companhias europeias, que deve criar uma produtora de cimento com valor de mercado perto de 60 bilhões de dólares e faturamento annual de 44 bilhões.
Especialistas da indústrias afirmam que a fusão pode precisa de dois anos para receber aprovação global dado que governos frequentemente são grandes clientes das cimenteiras, agindo também como reguladores do setor.
Dois terços dos desinvestimentos planejados por Lafarge e Holcim devem afetar a Europa Ocidental, mas as operações da companhia também se sobrepõem no Brasil, Canadá, China e Índia, disse o presidente-executivo da Lafarge, Bruno Lafont.
Um consultor que tem trabalhado para a Cemex em projetos de refinanciamento de dívida afirmou que espera que a companhia avalie ativos no Brasil e Canadá, evitando mercados asiáticos.
Fonte: Reuters