Takehiro Hagiwara sabe que grandes ideias costumam surgir a partir de pequenos problemas. Para o engenheiro da Sony que detesta acordar cedo isso significava a possibilidade de fabricar ele mesmo um despertador que fosse suficientemente inteligente para não parar de tocar enquanto ele não levantasse da cama e fechasse a porta do banheiro.
A ideia dele foi o MESH, um conjunto de botões, luzes e sensores recombináveis que faz com que inventar seja tão fácil quanto emparelhar um iPad, da Apple Inc., a um fone de ouvido sem fio. Ao conectar os pequenos blocos codificados por cor com um aplicativo móvel, os inventores podem criar aparelhos para ativar câmeras, enviar alertas de chuva ou desligar um despertador quando uma porta é fechada.
“Qualquer pessoa deveria poder se tornar um inventor”, disse Hagiwara, 36, em uma entrevista na sede da Sony em Tóquio. “Queremos dar a possibilidade de as pessoas fazerem em dois minutos algo que antes exigia duas semanas ou que nem era possível”.
O MESH utiliza os mesmos sensores que um smartphone médio para monitorar as mudanças no mundo real e coloca-os em módulos ? cada um é do tamanho de uma caixinha de chiclete ? que podem ser reutilizados pelas pessoas em seus próprios projetos.
Você quer que suas correspondências físicas gerem notificações semelhantes às dos e-mails? Cole um acelerômetro azul na porta da caixa de correio e peça que o aplicativo avise quando ela for aberta. Adicione uma câmera e um diodo emissor de luz para verificar se vale a pena ir buscar a entrega na caixa.
A aposta de Hagiwara para liberar o lado inventivo de cada um nasceu de uma iniciativa da própria Sony para revigorar sua cultura de inovação. O MESH ? batizado pela sigla em inglês de “fazer, experimentar e compartilhar” ? é um dos diversos projetos internos gerenciados pelo CEO Kazuo Hirai para estimular o fluxo de ideias na empresa que deu ao mundo o Walkman.
Buscam-se inovadores
Hagiwara, que projetou algoritmos que advinham o gosto musical ou cinematográfico da pessoa, foi um dos primeiros funcionários da Sony a se candidatar quando Hirai iniciou o programa em abril. O CEO se reúne pessoalmente com os desenvolvedores na unidade para testar protótipos e fazer comentários.
Um kit inicial com três blocos está à venda por US$ 119 e inclui um botão, um LED e um acelerômetro, que reconhece se foi sacudido, virado ou pressionado. Para os inventores mais avançados, também há um bloco de uso geral, em que os usuários podem encaixar distintos sensores, motores ou conectores.
O aplicativo para iPad é gratuito e a Sony não tem planos imediatos para elaborar uma versão que funcione no sistema Android, do Google Inc. Ainda não se sabe se o MESH será vendido com a marca Sony ou de modo independente, disse Hagiwara.
Financiamento coletivo
“Nunca tivemos algo na Sony como a velocidade em que colocamos esses projetos em operação”, disse Hirai aos repórteres em Tóquio, na semana passada. “Temos mais três projetos que estão prestes a se tornar um negócio. Estou morrendo de vontade de falar sobre eles, mas ainda não posso dizer nada”.
Para medir o interesse em inovações como o MESH, a Sony recorreu ao financiamento coletivo. Os primeiros interessados podem apoiar a campanha no Indiegogo, a plataforma de financiamento coletivo, até sábado, para obter seus próprios blocos MESH. Pedir que os apoiadores paguem antecipadamente é um modo rápido de começar a fabricação e atrair uma comunidade de desenvolvedores. A iniciativa superou o objetivo de arrecadar US$ 50.000, com mais de 490 financiadores até quinta-feira em Tóquio.
Hagiwara não chegou a construir o despertador. Depois que teve a ideia, passou a imaginar um leque muito mais amplo de aplicações.
O engenheiro da Sony imagina um mercado onde os usuários possam vender produtos feitos com MESH e os desenvolvedores independentes possam sugerir novos módulos ou explorar ideias de possíveis usos.
“Em todas as casas há uma gaveta com papel, tesoura e cola”, disse ele. “Nossa maior ambição é que o MESH se torne uma dessas ferramentas cotidianas que as pessoas utilizam comumente”.
Fonte: Uol