A dificuldade de articulação do governo em conjunto com um ambiente de cautela ainda presente no exterior fez o Ibovespa tocar o menor patamar desde 3 de janeiro na sessão de hoje. No fechamento, o índice absorveu parte das baixas e voltou à faixa dos 91 mil pontos, mas mesmo assim ficou marcado pelas vendas nas ações mais líquidas e de maior peso.
O Ibovespa encerrou em queda de 0,51%, aos 91.623 pontos, depois de tocar os 90.295 pontos na mínima do dia, uma baixa de 1,95%. O giro financeiro foi de R$ 11,3 bilhões. Em 3 de janeiro, o Ibovespa fechou em 91.564 pontos e tocou uma mínima de 89.921 pontos.
Os bancos e a Petrobras cederam e, não fosse pela performance da Vale, a perda do Ibovespa no dia seria até maior. A mineradora subiu 0,76%, em linha com o minério de ferro no exterior, que teve alta de quase 3% hoje. A Vale também busca um nível de recomposição de preços após fortes perdas, o que ajudou na valorização.
O cenário no dia foi de pressão, no entanto. Pesaram os dados aquém da expectativa do mercado para vendas no varejo e produção industrial na China, enquanto os Estados Unidos viram queda em dados de varejo e indústria também no mês de abril, na comparação mensal.
Ao longo da tarde, houve redução de perdas após o anúncio de que o presidente americano, Donald Trump, discutiu o adiamento das tarifas previstas para os automóveis importados chineses por até seis meses. As informações são da rede CNBC e da agência Bloomberg por meio de fontes anônimas. A medida acalmou o ânimo dos investidores, uma vez que o cenário internacional já anda bastante tenso por conta do impasse entre Estados Unidos e China.
As bolsas americanas tiveram altas no dia, mas os ativos brasileiros negociados lá fora não acompanharam a tendência — o que demonstra como a situação dos emergentes ainda é frágil. O Dow Jones Brazil Titans, índice que mede o desempenho dos 20 maiores recibos de ações (ADRs) do país, caiu 1,39%; já o iShares MSCI Brazil, maior fundo de índice (ETF) ligado a ações brasileiras negociado em Nova York, cedeu 1,36%.
No cenário interno, o que preocupa os investidores, ainda que em menor escala, é a mais nova derrota sofrida pelo governo na Câmara. Uma votação realizada no plenário da Câmara ontem, com placar de 307 votos a 82, definiu que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, deveria explicar aos parlamentares o corte de 30% das verbas para as universidades e institutos federais. Weintraub realiza neste momento a sua fala na casa.
O ambiente no Brasil também não é dos melhores considerando a demora na tramitação da reforma da Previdência e as sucessivas frustrações em relação ao desempenho da atividade econômica. “Antes, tínhamos perspectivas melhores em relação à guerra comercial, que parecia que ia ter um acordo em breve, e sobre a reforma da Previdência, que agora também parece mais difícil. As tensões subiram lá fora e também aqui”, diz Victor Beirute, analista da Guide Investimentos.
Fonte: Valor Econômico