Hadassa de Lima*
A Noite Estrelada, obra do holandês Vincent Van Gogh, de 1889, inspira os cientistas que buscam identificar os mistérios em torno da turbulência, foco da pintura. Pesquisadores do Instituto Americano de Física, em Maryland, nos Estados Unidos, debruçam-se sobre o quadro à procura de respostas. Autor principal da pesquisa, Yongxiang Huang destacou que cada pincelada do artista foi dividida na escala de mapeamento. Por meio de uma imagem de alta resolução, é possível comparar a teoria da formação das turbulências.
Representando as pinceladas como folhas rodopiantes em um funil de vento, os pesquisadores examinaram seu comportamento, forma e condições atmosféricas. As cores foram examinadas com base na energia cinética — força e energia de um corpo celeste em movimento, presente em todo aquele que se desloca substituído pelo brilho relativo. De acordo com o pesquisador, é possível compreender de forma “profunda e intuitiva os fenômenos naturais”, a partir da fascinação de Van Gogh pela astronomia.
O estudo foi observado sob 14 tipos diferentes de escalas espaciais para formas giratórias. A obra foi considerada parte da Lei Zero-Um, do matemático Andrey Kolmogorov, por integrar o sistema de compressão de dados. A aplicação é possível em áreas de compressão de arquivos e inteligência artificial (IA), pois ajuda a tornar os sistemas mais eficientes ao armazenar dados. A descoberta deve contribuir para ampliar o uso na física e engenharia ao demonstrar como o calor e as partículas de diversos materiais se misturam em líquidos e gases, em situações em que há turbulência.
A expectativa de Yongxiang Huang é apresentar um novo conceito, pois ele acredita que ao observar tais eventos incomuns com características tão parecidas, seja necessário adotar maior preciosismo na nomenclatura. Atualmente aplica-se o conceito em engenharia aeroespacial para caracterizar os regimes de fluxo e as forças de arrasto e elevação em corpos e aerofólios, no fluxo de Reynolds, as turbulências são uma das propriedades de maior movimento. O professor Luís Cavalcante, gestor do Planetário de Brasília Luiz Crulz, afirmou que a turbulência de Van Gogh é uma questão complexa a ser resolvida para os matemáticos.
“Desde a origem do mundo, a turbulência é vista como algo caótico e que o desejo de realizar a organização de um mundo recém criado é o que define esse evento: a produção da ordem”, ressaltou Cavalcante. Para ele, o fascínio de Van Gogh pela astronomia está presente em várias obras, basta observar que o artista retratou o anoitecer com mais cores do que o amanhecer, contrariando o que pregava a física. Também reproduziu constelações, como a Ursa Menor e a de Áries.
Estagiária sob supervisão de Renata Giraldi
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