É estarrecedora a solidão da Petrobras neste triste momento da história da República. A desavergonhada politização de um suposto ato individual de banditismo está enlameando o nome da corporação.
É como se na história da Petrobras não tivessem ocorrido outros episódios de malversação, em diversos governos anteriores. E pouco importa o fato de que a estatal faz centenas de milhares de ordens de compra por dia, todas devidamente submetidas ao crivo do TCU – é claro que no meio do milharal sempre há algum corvo. Da mesma forma, os detratores da companhia convenientemente ignoram o passado da empresa, marcado por algumas gestões extremamente controversas, como nos tempos de Shigeaki Ueki, Luis Octavio da Motta Veiga – um mártir contra as vigarices de PC Farias e Joel Rennó. O jornalista Paulo Francis não morreu por acaso. Mas, a nova “UDN de casaca” não quer só a cabeça da atual administração da Petrobras, mas do governo que a indicou.
A estatal é uma corporação ciclópica e paga o preço da sua escala e inevitável imbricação com o Poder Executivo, o que não significa um salvo conduto para a rapina. Mas nos episódios anteriores, buscou-se a punição dos malfeitores, e não a crucificação da empresa. O que se vê hoje é a tentativa de criar um “Petrolão”, uma espécie de “ação penal 471” – ao menos por ora, sem Joaquim Barbosa. Os interessados e seus ferramenteiros são óbvios, os mesmos de sempre. O objetivo não é outro senão tentar transformar a parte no todo, usando a estatal como um elemento maculador do PT. A opinião pública está sendo coagida a acreditar que a companhia é o mal do crime de alguns. Não há pudor em utilizar de todo o tipo de instrumento de manipulação: em um dia os veículos de comunicação bombardeiam com o relato das maiores vilanias, mexendo assim na percepção; no dia seguinte, os institutos de pesquisa saem a campo para medir a imagem da empresa. Na primeira hora, inocula-se o veneno; no dia seguinte, faz-se a necropsia apenas para sancionar a causa mortis desejada. O linchamento da Petrobras pode ser medido em centímetros. No último fim de semana, as matérias contra a empresa publicadas pelos quatro principais jornais do país (Folha, Estadão, O Globo e Valor Econômico) e pelas revistas de maior circulação (Veja, Época, Isto É e Exame) somaram aproximadamente 38 mil cm2. Tomando-se como base o valor de inserção publicitária nos respectivos veículos, pode-se dizer que a oposição economizou cerca de R$ 31 milhões. Somente no “Mensalão” verificou- se uma cobertura jornalística dessa dimensão e igualmente editorializada.
A Petrobras é a mais importante e simbólica empresa brasileira. É inaceitável que seja apedrejada sozinha na rua escura dos interesses políticos. Tratasse de mais uma emporcalhada manobra eleitoral na história da política brasileira. Que se manifestem de forma veemente pelo menos a Aepet, o Sindicato dos Petroleiros e os próprios funcionários da estatal. Que se apliquem as penas da Lei ao indiciado Paulo Roberto Costa. Mas não sujem a Petrobras com suas segundas intenções.
Fonte: Relatório Reservado