Músicas, poemas, imagens, trailers e até filmes; tudo ainda é trabalho de seres humanos com uma sensibilidade maior pela arte e, na maioria das vezes, um dom especial. Mas se o processo criativo é fruto de um repertório – uma espécie de banco de dados de experiências vividas pelo artista – nada impede que máquinas também sejam capazes de usar dados para criar Arte. O tema é discutível. E em mais exemplo de seu potencial, a Inteligência Artificial resolveu atacar de artista.
São muitos os exemplos de obras criadas através da tecnologia. A última foi a edição do trailer para o filme Morgan. Em parceria com a IBM a produtora do filme usou a plataforma de computação cognitiva Watson para criar o trailer. O Watson “assistiu” a trailers de 100 filmes de suspense e terror, divididos em cenas. Em cada cena, o sistema avaliou separadamente os sons, a composição das imagens e as emoções geradas pelo filme. Para analisar essa emoção, a inteligência artificial observou as expressões faciais dos atores, os objetos usados nas cenas e até a gradação de cores das cenas.
Assassinado em 2003, a obra do irreverente rapper paulista Sabotage também voltou à vida graças à tecnologia. Em uma ação inédita no país, o Spotify reuniu manuscritos, gravações inéditas e todo material deixado pelo artista para serem interpretados por um algoritmo de Inteligência Artificial. O sistema foi capaz de identificar o padrão de escrita do rapper e então criar novas sentenças. Os filhos e outros parceiros de Sabotage deram um toque final avaliando e validando as sentenças sugeridas. Nascia a música póstuma e inédita “Neural”.
A plataforma de código aberto Tensorflow, do Google, também se propõe a ensinar máquinas a fazer arte. O gigantes das buscas lançou o projeto Magenta, que a princípio trabalha com algoritmos capazes de gerar música. O próximo passo é criar vídeos e, mais para frente, outras formas de artes visuais. O projeto nasceu da iniciativa Deep Dream, também do google. Esta, era capaz de usar a inteligência artificial para entender e interpretar objetos e imagens. O resultado são criações malucas como esta que mistura cachorros de vários olhos com parte do corpo humano e outras viagens lisérgicas.
Há 17 anos pintando imagens do surfe e da vida marinha, o Erick começou há três anos seu projeto Gigantes do Mar. Sua proposta é pintar 80 murais como este espalhados pelo mundo retratando animais marinhos em tamanho real. Ele ficou surpreso ao descobrir que, por exemplo, o aplicativo Prisma usava a inteligência artificial para dar toques artísticos às fotos de qualquer um. O app transforma os cliques baseados em obras de renomados artistas internacionais.
Quem trabalha do lado hi-tech da arte defende que as pessoas precisam entender que a computação cognitiva não veio para tomar o lugar delas – longe de qualquer ideia de substituir o ser humano artista. Já os mais ligados em tecnologia se fascinam com a evolução das máquinas e até de suas capacidades criativas e poéticas.
De volta ao trailer criado pelo Watson, ainda vale destacar que o processo que leva até 30 dias para ser executado, foi feito em apenas 24 horas com a ajuda da Inteligência Artificial. A tendência é que esse choque entre ego de artistas e tecnologia seja cada vez menor com o passar do tempo e um maior entendimento das possibilidades que a computação pode trazer para o mundo da arte. E, tenha certeza, por mais que a tecnologia possa contribuir, acelerar processos e até criar arte, ela nunca entenderá de um assunto muito mais complicado e delicado: relações humanas.
Fonte: Olhar Digital