Constrangido politicamente pela peça orçamentária que não trouxe a continuação do Auxílio Brasil em R$ 600 para 2023, o governo acordou nesta quinta-feira (1/9) com uma boa notícia na seara econômica. O PIB do segundo trimestre surpreendeu as expectativas do mercado e da própria equipe econômica e cresceu 1,2%, acelerando em relação ao verificado nos primeiros três meses do ano e garantindo, mesmo que o segundo semestre não tenha nenhum crescimento, uma expansão para o ano entre 2,4% (governo) e 2,6%, a depender de quem faz a conta.
Revisões para cima nas estimativas para o ano estão a caminho. A alta do PIB já estava sendo esperada, mas o governo e o mercado estavam com números em torno de 0,9%. A alta de 1,2% é equivalente a um ritmo anualizado superior a 4,5%. No primeiro semestre, o ritmo também ficou acima de 4%.
Porém, todo mundo espera, inclusive na área econômica do governo, que perca vigor neste segundo semestre. O tamanho dessa perda de fôlego, contudo, é uma incógnita. É importante lembrar que o terceiro trimestre conta com a entrada de medidas como o Auxílio Brasil de R$ 600 e as iniciativas que reduziram preços de combustíveis e que podem ajudar a estimular o consumo pelo efeito de melhora na renda disponível. Além disso, conta com um carregamento estatístico positivo legado pelos três meses anteriores.
Por outro lado, jogam contra a atividade no segundo semestre os efeitos defasados da política monetária e a conjuntura internacional cada vez mais adversa, com o aperto de juros nas economias centrais e o cenário de recessão/desaceleração, cuja dúvida é basicamente o tamanho da queda nos Estados Unidos e Europa.
Na nota informativa divulgada há pouco, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia destaca que já são seis altas trimestrais seguidas do PIB. E faz questão de dizer que vinha avisando que o mercado teria que revisar suas projeções do início do ano, quando chegou a trabalhar com uma estimativa de 0,3% para 2022, na média.
O recado não é só o clássico “eu avisei”. A mira é para frente. O pessimismo das casas do setor financeiro para 2023, que enxerga de novo um PIB abaixo de 0,5%, incomoda muito o governo, que nesta quarta-feira (31/8), no orçamento enviado ao Congresso, manteve um cenário de 2,5% de expansão do PIB no primeiro ano da próxima administração federal.
O Ministério da Economia, de fato, tem ganhado com maior frequência a disputa com o mercado no cenário de atividade. Mas é importante considerar que a sensação de bem-estar econômico ainda não é grande coisa. Mesmo em queda e também surpreendendo a cada mês (evidência de uma atividade mais forte), o desemprego é alto: 9,1%. E a inflação, ainda que recentemente esteja melhorando, influenciada pelas desonerações nos combustíveis e pelos efeitos que começam a surgir discretamente da política monetária, machucou muito a renda das pessoas.
De qualquer forma, vale uma reflexão do mercado sobre o que tem feito o PIB surpreender tanto as casas do setor privado, mesmo com os alertas do governo de que algo importante está acontecendo, e continuará impulsionando a atividade, no lado da oferta do PIB.
Fonte: Jota